“Pétalas como armadura” e a força do primeiro álbum solo de Hayley Williams

junho 14, 2020





Quando a cantora Hayley Williams lançou as primeiras músicas do novo álbum, Petals for Armor, houve um estranhamento por parte de muitas pessoas por não lembrar suas obras na banda Paramore. Estranhamento, na minha opinião, fruto de uma expectativa altamente idealizada. Afinal: 1) este é um álbum solo e não da banda; 2) no início da carreira ela tinha 15 anos e hoje tem 31, portanto, é absolutamente normal que alguém sofra transformações durante esse período.

É incrível acompanhar essa mudança de Williams musicalmente e em relação a seus sentimentos e ideais. E a experiência fica ainda melhor quando sabemos a história por trás das composições.

Antes de falar sobre o álbum, acho importante fazer um breve resumo. Hayley é vocalista de Paramore desde 2004. O estilo rock punk fez com que ela se tivesse que se adaptar cedo a integrar um cenário majoritariamente masculino. A banda já passou por diversos desfalques que abalaram os integrantes e esse tema é presente em algumas de suas composições.

Falando especificamente da cantora, ela passou, em 2017, pelo término de um relacionamento de 10 anos que implicou, de certa forma, negativamente em seu modo de se relacionar com o mundo. Em 2018, após da turnê de After Laughter, Hayley decidiu dar um tempo por conta da depressão.

O álbum nasce em um momento de readaptação. Através da terapia, Hayley começa a ter um contato especial com pétalas, daí surge o título do álbum Petals for Armor. E esse álbum, que é dividido em três partes, vem para expor seus momentos de fraqueza e de coragem durante esse período.

A primeira parte traz uma raiva reprimida e um sentimento de impotência que estou certa de que toda pessoa já sentiu. Eu estou vendo as coisas saindo do meu controle e eu não posso fazer nada! “Agora que finalmente quero viver / Aqueles que eu amo estão morrendo” (Leave it alone). O que resta nesse momento é “ferver até acalmar” (música Simmer). Nesse primeiro momento ela parece estar se redescobrindo na solidão e na liberdade.

Os novos sentimentos ainda parecem estranho, há um remorso quanto ao desejo. A sensação de algo rondando é frequente (Creepin) até que você se sinta à vontade com si mesma novamente.

A segunda é irônica, mais ácida, crítica. É como o grito que ecoa depois de ter se sufocado por tanto tempo. Dead Horse é um bom exemplo disso. A música ri de si mesmo e dos outros. Dá uma de Marília Mendonça e conta que foi traída, mas também foi amante. Ela também fala mal de Still into you (2013) que compôs para o ex-marido e encerra com “agora você tem outra música”.

Ao mesmo tempo que esse grito surge, vem também saída da solidão antes sentida. Eu não estou sozinha, eu tenho pessoas que sempre estiveram comigo (My friend). Eu tenho mulheres que já passaram pelas mesmas coisas e hoje, mais do que nunca, me sinto conectada com elas (Roses/Lotus/Violet/Iris). Esta última é, para mim, uma das mais importantes. Tendo crescido em um meio musical repleto de homens e se posto em situação de rivalidade com outras mulheres, é lindo ver esse processo de conexão.

Essa fase termina com um medo expresso na letra de Why we ever. Embora não se sinta mais só, se envolver intimamente com outra pessoa ainda é um processo difícil. O medo do abandono faz com que tenhamos medo de começar algo novo.

E a terceira parte (tão linda) busca essas conexões. Por vezes sugestivas, fala de relações, de intimidade, de comunicação. É se conectar não só com outrem, mas com si mesma. Na música Watch me while I bloom, Hayley fala como é se sentir de volta em seu próprio corpo. Depois de perder muito peso e ter a menstruação interrompida por conta da ansiedade, voltar ao seu normal parece algo absolutamente fascinante.

Essa terceira fase começa com o medo dessa conexão (Pure Love). Evolui para a busca de uma relação saudável (Taken). Como as pessoas se relacionam hoje? Depois de tempos presa em uma relação, é assustador ver que as coisas podem ser de outra forma, você assume o que viveu como a normalidade e acha que sempre é assim, pois isso é o que você conhece (pra deixar claro, essa é a Gabriella falando, não a Hayley).

A linha do álbum se inicia com a solidão e a raiva de quem se sente impotente diante de tudo que acontece ao seu redor. E reprime o que sente. Em seguida grita tudo aquilo que incomodou. Agora não está só, mas tem medo de voltar a estar. Vai perdendo o medo, vai recuperando sua forma... E então termina da forma mais linda possível.

Em Crystal clear, última música, ela fala da paixão e da vulnerabilidade, de querer se apaixonar e iniciar tudo de novo, mesmo com as inseguranças. “Claro como cristal, eu não vou ceder ao medo”.

Ter consciência de que somos vulneráveis é algo complicado. Todo momento em que pudermos nos blindar, nós faremos isso. E o que ela faz nesse álbum é mostrar suas vulnerabilidades. Na minha opinião, um dos maiores atos de coragem e amor possíveis.

10 comentários

  1. Achei lindo e profundo. Olhar para si mesmo e ter a coragem de mostrar suas fraquezas para os outros é um ato muito corajoso!
    Ps.: GABI ESCREVE MUITO *-*

    ResponderExcluir
  2. perfeita análise do álbum, muito bem escrita!! me deixou com vontade de escutá-lo! parabéns pelo texto Gabi 💗😘

    ResponderExcluir
  3. gosto tanto da tua escrita que leria até a sua lista de supermecado,enfim, perfeito e tão coerente, incrível ver a evolução da hayley, você arrasa demais Gabi ❤

    ResponderExcluir
  4. aaa deu até vontade de ouvir o álbum de novo depois de ler teu texto! adorei 💖

    ResponderExcluir
  5. Incrível! Nunca tinha ouvido Hayley Williams, vou começar a ouvir a partir de hj

    ResponderExcluir
  6. Eu amei.Nao conheço muito ela e so escutei duas músicas do Paramore se eu não me engano mas seu texto me fez ter vontade de escutar esse album e é exatamente o que eu vou fazer.

    ResponderExcluir
  7. aaaaaaaaaaaaaa
    esse texto é incrívelllllllllllll

    ResponderExcluir
  8. Que analise incrivel!!! Parabenss

    ResponderExcluir