A estação de verão e a harmonia metafórica do ouvinte

agosto 09, 2020

 

Em uma noite quente de domingo me pego ouvindo a rádio no sofá da sala. Há tempos não havia feito isso e só agora percebo o quanto gosto de fazê-lo. O gosto que tenho quando toca algo que conheço e a ansiedade pela próxima para me gloriar de sabê-la ou me redimir e pesquisá-la, e querê-la, e senti-la, e cantá-la.
Tudo lhe remete aqueles tempos antigos, família unida em torno daquele som, ou seu avô segurando o radinho de pilha no qual assistia a seu jornalzinho da noite. Tempos que dão saudade e, quase harmonicamente, a nostalgia que traz consigo a poesia.
E a raiva que sentíamos quando, logo na melhor parte daquela música – tinha que ser bem “Naquela”? – vinha aquele locutor cortar o clima para fazer algum aviso, ou mandar abraço para algum ouvinte, ou até para fazer aquela propaganda que todos nós sabemos de cor.
Mas a melhor parte disso tudo (provavelmente o motivo pelo qual o gosto tanto) é que a próxima música era totalmente imprevisível, mas conseguia se adequar perfeitamente ao seu estado emocional momentâneo, parecia sempre saber como “mexer” com seu ouvinte. 
E, conforme a música ia mudando, seu humor vai sofrendo uma metamorfose contínua propagada por uma mistura de composições tão harmônica e tão única que te faz se deixar em rir em músicas tristes e chorar nas mais felizes. E se deliciar ouvindo aquelas que nunca havia ouvido na vida, se atentando à suas mínimas notas e decorando trechos fáceis para cantar daquele jeito enrolado e sem noção que só os amadores sabem.
A vida, meu caro amigo, é como músicas de rádio, fazendo você se sentir em um mundo paralelo distante e mudando de humores e amores a todo momento. 
É harmônica, mesmo que as vezes essa harmonia seja assustadora e, por mais que mudemos de estação, sempre acabaremos voltando àquela que no cativou.

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