Sobre o amor e as escolhas

abril 25, 2021

  



Não parece, mas esse é um trabalho acadêmico. Talvez não pareça por falar de um tema tão subjetivo e abrangente como o amor. Eu mesma nunca tinha parado para pensar que isso poderia ser até mesmo estudado, acreditava que havia coisas que só poderiam ser sentidas ou, no máximo, representadas por meio de expressões artísticas. Aproveitando o gancho, vou até sugerir uma música que considero que esteja relacionada ao tema para que eu possa me expressar a partir de então.

O que faz então alguém que é especialista no amor? Eu amo, isso me tornaria uma especialista no amor? Isso nos leva à pergunta principal do texto:

Existe uma racionalidade no amor?

Eu não poderia dizer que sim ou que não antes de fazer um apanhado dos conceitos e, mesmo fazendo esse apanhado, também sou incapaz de fazer qualquer afirmação. Assim como a maior parte dos textos deste blog, a minha intenção é deixar os leitores com uma pulga atrás da orelha.

No livro Amor, Poesia e Sabedoria, Edgard Morin explica, ou pelo menos tentar explicar, o que é o amor. Creio que a lição que fica é de que esse termo pode ser tão amplo que exige de nós um olhar para todas as possibilidades, o amor como instinto, como criador, como transgressor e como sentido da vida.

“Mas então o que é o amor? É o ápice entre loucura e sabedoria”, ele declama.
 

Eu creio que sim, existe amor na razão e razão no amor. Depois que li o livro, parei para me questionar sobre as decisões da minha própria vida. Quando resolvi me mudar para longe de minha cidade natal e deixar amores, pareceu o certo. Uma decisão, portanto, predominantemente racional.

Mas perceba aqui que usei predominantemente, pois nenhuma decisão é totalmente racional ou totalmente emotiva. Ali Quando decidi tomar a tal “decisão certa”, havia ali um amor por trás do ato. Talvez um amor a mim, talvez ao futuro que pretendia ter, talvez até a algo que nunca vou conseguir classificar. Mas uma coisa é fato: ninguém faz uma escolha apenas por ser a coisa certa, pois, assim como o amor, o certo também é subjetivo.

Em outro texto, Morin diz: "o amor faz parte da poesia da vida. Devemos viver esta poesia que não pode espalhar-se pela vida como um todo, e isso porque, se tudo fosse poesia, não haveria espaço para a prosa. Da mesma maneira que o sofrimento deve existir para que se conheça a felicidade, deverá também haver prosa para que haja poesia".

Ou seja, há poesia (subjetividade) e prosa (objetividade) na vida e o nosso desafio maior é tentar conciliar os dois lados. Tempo para opinião pessoal e sem embasamento: nós nunca vamos conseguir. No conto publicado ontem, falo sobre isso também


Se eu parasse de escrever agora para passar um tempo com os amigos ou algo assim, eu estaria privilegiando o amor, certo? Para a Gabriella do passado, essa decisão seria inadmissível, para a Gabriella de hoje, quem sabe?

Talvez hoje eu esteja mais aberta às experiências que vão me trazer sentimentos bons. Isso me torna menos racional? Claro que não! Pense bem, eu estou pesando as vantagens e desvantagens e escolhendo o que é melhor para mim. Quando você opta pelo amor, já está, de certa forma, sendo racional. E muito corajoso, diga-se de passagem.

Lembro quando às vezes eu queria largar um texto literário que estava escrevendo para mandar uma mensagem para uma determinada pessoa e passar horas conversando. Deixar de escrever sobre amor para amar? Isso não parece ser uma escolha difícil, mas é.

No fundo, todas as escolhas são mais do que optar pelo amor ou pela razão. Há confrontos entre diferentes amores e diferentes racionalidades, há conflitos a respeito do que somos, do que queremos e do que é melhor para nós.

A maior provação do que é a sabedoria então talvez seja entender que o amor está por trás de (quase) tudo. 

 

Segue para a próxima crônica.


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