Era uma vez um tirano: o que uma história infantil pode nos ensinar sobre democracia

julho 05, 2020


Era uma vez um tirano: uma lição de história, política e diversidade



“Uns dizem que esta história aconteceu há muitos e muitos anos, num país muito longe daqui. Outros garantem que não, que aconteceu há poucos e poucos dias, bem pertinho. Tem também quem jure que está acontecendo ainda, em algum lugar. E há quem ache que ainda vai acontecer.” Assim, irônico e sugestivo, começa o livro Era uma vez um tirano, de autoria de Ana Maria Machado.

O livro, publicado em 1982 (final da ditadura militar no Brasil) conta a história de um país/reino/povo ou seja lá o que for que é então dominado por um regime tirânico. Logo no início a autora deixa claro que, apesar de fictícia, histórias parecidas com a desse tirano acontecem por aí o tempo todo.

Mesmo sendo um livro infantil, Era uma vez um tirano é uma lição de história, política e diversidade que nunca fica ultrapassada. Essa obra ressalta a importância de ler para uma criança como um processo de formação de caráter cidadão. Sabe aquela recorrente pergunta “como vou ensinar tal coisa para meu filho?” que as pessoas sempre usam quando se deve falar de um tema mais sério? Como uma criança que teve a leitura como algo presente na minha vida, creio que a leitura é sempre uma boa forma para isso.

Infelizmente não conheci o livro falado aqui na minha infância, só mais ou menos aos 12 anos tive a oportunidade (ok, eu não era um exemplo de maturidade, mas chama uma pessoa de 12 anos de criança para você ver).

Hoje, lendo a mesma obra com outra base, percebo a importância das lições sobre liberdade de expressão, valorização da cultura e democracia que ela traz. Posso relacioná-la até mesmo com livros sobre política de li. Aqui escolho falar fazer um paralelo com o livro Como as democracias morrem, de Steven Levitsky e Daniel Ziblatt.

Na história infantil, havia um povo que tomava suas decisões democraticamente, na base do diálogo. Até que uma hora essa conversa virou bagunça e nesse momento surgiu o tirano. Teve até quem gostasse desse governo, mas o tirano não ouvia ninguém, nem os apoiadores.

Em Como as democracias morrem há quatro características que identificam um governo autoritário: rejeição das regras democráticas do jogo; negação da legitimidade dos oponentes políticos; tolerância ou encorajamento à violência; propensão a restringir liberdade civis de oponentes, inclusive a mídia.

Todas essas foram feitas pelo tirano de Ana Maria Machado. Ele expulsou o líder eleito e “desandou a dar ordens e mandar em todo mundo, só porque era mais forte”. Foi aos poucos proibindo ideias, cores, danças, encontros, músicas, meios de comunicação e até as estrelas ele queria inutilmente proibir.

O mundo então ficou todo cinzento, sem voz, sem abraços, sem música, sem diversão. O que o tirano não imaginava era que iriam surgir três crianças (que estão na foto da postagem) tão diferentes em suas cores, jeitos, cabelos e tão lindos a seus modos. Jacira, indígena da pele “cor de cobre”; Isabel, loira de pele rosada; e Totonho, preto de cabelo todo encaracolado.

Como eles salvaram todos das garras do tirano? Ah, isso eu não vou contar, mas vou dar uma dica: a cultura pode colorir o mundo.

Como as democracias morrem foca na aliança entre os partidos como guardiões da democracia. Óbvio, a abordagem desse é completamente diferente, sobretudo por conta do público. No entanto, eles concordam em uma coisa: a união em prol da democracia.

O livro científico explana que as pautas da política são muito vastas. Portanto, mesmo que eu discorde em um ponto com alguém, nós podemos concordar em outro ponto. Não iremos sempre concordar ou discordar da mesma pessoa. Assim, os defensores da democracia devem se unir quando ameaçado o direito a liberdade, mesmo com as divergências.

Era uma vez um tirano não entra em tantos detalhes sobre revoluções, e nem deve mesmo, pois ele é um livro infantil. A maior contribuição dele é falar para as crianças sobre diversidade. Temos culturas diversas, ideias diferentes e vamos discordar as vezes mas a liberdade é um direito essencial que devemos lutar para preservar.

3 comentários

  1. Oiii perfeitaaaaaaa!! Eu amei demais esse texto. Você não tem noção. Meu coração de jornaleira ficou quentinhooooooo demais! A sua análise está incrível. Amei a parte que você fala que podemos discordar em um assunto, mas concordar em outro. Isso é muito real e em algumas circunstâncias trazem pessoas diferentes para dentro da nossa vida (ou várias delas saem!).
    Ansiosa pela próxima análise ❤️

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  2. eu ameiiiii esse texto, sua análise foi impecável e sua escrita prendeu do início ao fim! pftaaa

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  3. Já to ansiosa para a próxima análise, tu tem um gosto impecável para livros, não é atoa que escreve tão bem, amei muito o texto ❤❤

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