Os dramas do universitário

julho 19, 2020



Esse texto apresenta desabafos, críticas e humor questionável, pois creio que a vida do universitário é isso. Não importa qual o curso ou até mesmo o quão reservado ou extrovertido você é, três coisas que você vai fazer nas imediações do campus são: chorar, surtar de estresse nos corredores e rir da própria merda (e ficar um tanto bêbado bosta no bares lá por perto).

Para início de conversa, gostaria de dizer a quem vai para a universidade pública que fazem propaganda enganosa para nós. Quando falo onde estudo, já começam os discursos de cuidado com amizades, influências etc, já foram tantos que nem sei mais como reagir e só dou uma risada. Óbvio que não estou dizendo que não existe, mas acho que as pessoas aumentam um pouco as histórias e desconhecem um tanto da nossa realidade (não to jogando indireta para ninguém específico, ok gente?).

Quando passei, me disseram logo para eu não comer qualquer doce na UnB pois não eram doces “normais”, então vocês não imaginam qual foi a minha surpresa quando comi um brigadeiro e ele era, olha só, UM BRIGADEIRO NORMAL.

Brincadeiras à parte, de fato universidade é muito diversa, tem de quase tudo um pouco, é um dos ambientes mais diversos que conheço e creio que por isso é uma experiência tão apaixonante. Mas também não podemos esquecer o quanto ela pode ser exclusiva e ignorar as especificidades dos alunos (não vou usar o texto pra criticar o ensino remoto, mas bem que poderia).

Mas, mesmo com pessoas tão diferentes, a gente encontra nossas semelhanças com outras pessoas para se achegar e ser conforto uma da outra. E as amizades são o melhor de lá.

Isso não quer dizer que a gente vá se fechar numa bolha, mas que é bom ter alguém que entenda o que você está passando. A primeira amizade que fiz no curso foi com uma colega de classe que veio do Ceará (sei que ela vai ler isso, então beijo, amiga) e foi muito acolhedor encontrar outra mulher nordestina que saiu do seu estado para fazer Jornalismo.

O processo de entrada pode ser devastador e lindo ao mesmo tempo. Devastador porque é uma adaptação e adaptações são complicados. Lindo porque é uma fase nova e especial da vida. Acho que principalmente para quem se encaixa em alguma minoria, é uma sensação incrível ver que você está ocupando aquele espaço, um orgulho de si mesmo.

Curiosidade: quando eu fui fazer minha matrícula na UnB, fiquei tão empolgada que saí tirando foto de todas as plantas feito uma tiazinha, a empolgação foi tanta que eu simplesmente esqueci minha mochila com TODOS os documentos numa escada aleatória (felizmente encontrei e estava intacta).

É muito lindo também ver o deslumbramento das outras pessoas, principalmente quando elas acabam de chegar na graduação, os controversos calouros. Nas minhas contas existem quatro principais tipos de calouros. 1 – o calouro deslumbrado: muito fofo, fica encantado com tudo, quer vivenciar tudo; 2 – o calouro festeiro: esse chega chegando, quer ir para todos os bares, conhecer todo mundo, beijar geral; 3 – o calouro sério: não quer saber de nada que envolva trote, veio ali só pra estudar, não está a fim de dar rolê com estranhos; 4 – o calouro tímido: simpático e reservado, quer participar, mas tem vergonha. Entre todos eles uma coisa é comum: o brilho no olho.

Esse brilho no olho as vezes dá uma apagada, a gente cansa um pouco, mas ele continua, não da mesma forma, mas continua. Acho que um dos principais motivos pelos quais a gente “murcha” é a incerteza. A não ser que a gente seja herdeiro ou algo assim, a gente tem que trabalhar, né.

E aí começa a paranoia do estudante: “em qual área eu vou trabalhar?”, “como que eu vou conseguir meu primeiro estágio se eles exigem experiência e, para ter experiência, eu preciso ser contratado primeiro?” “por que não escolhi um curso que dá mais dinheiro?”.

Aqui é importante ver que cada um é levado para o caminho que acha que vai ser melhor e ATENÇÃO: nenhum caminho é certo ou errado (a não ser que você opte por não fazer absolutamente nada, eu acho isso um tanto arriscado). E isso é bom frisar porque muita gente (inclusive eu) se culpa muito por não estar fazendo tal coisa. Calma aí gente, repeitem o tempo e os limites de vocês.

Mas isso também é culpa do mercado que exige cada vez mais. Na minha área, comunicação, você procura uma vaga e está lá “precisa ter inglês fluente, dominar o Pacote Adobe completo, escrever, ilustrar, editar, ter um blog...” e você fica “eu não vou ter o currículo e o portfólio perfeitos nunca?”

Ah o portfólio... ele é uma coisa que deixa a gente simplesmente LOUCO com o que colocar nele (não vou mentir que, apesar da finalidade do blog não ser essa, também pensei no fator portfólio na hora de cria-lo).

Enfim, a universidade é uma sucessão de “se vira” que faz uma falta quando a gente está longe dela....

Mas o melhor da universidade é saber que você não está só. Em todas essas situações de surto, choro ou marmotagem terá alguém igual (ou pior) a você. E ver duas pessoas surtadas se consolando é a maior e melhor expressão da união estudantil.

2 comentários

  1. Beijo amiga! Tô morrendo de saudades! Que texto maravilhoso

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  2. Como diria o Roberto Carlos: "são tantas emoções"... A vida de um universitário não é fácil, esses e muitos outros questionamentos surgem e nos deixam inseguros, algumas vezes aquela vontade de desistir por não se achar capaz, mas a gente consegue superar. E não canso de dizer que você, Gabriella Castro, foi a principal pessoa em quem eu me inspirei e pude acreditar que o que ainda estava por vir poderia ser muito melhor. A mudança de estado e de universidade foi uma escolha minha, da qual não me arrependo, mas não foi nem um pouco fácil esse período de adaptação. É tão bom quando encontramos pessoas com quem nos identificamos.

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