Me pediram um desabafo

junho 01, 2021

 



Me pediram um desabafo. Aqui vai um: é extremamente complicado deixar que alguém me conheça.

Eu não falo de saber do que você gosta, as músicas que escuta ou até quais são as suas paixões, apesar de achar isso muito importante também. Falo de te conhecer a ponto de saber que você é um chato.

Exatamente isso. Não estou criticando ninguém específico, todo mundo é um pouco chato, implicante, inseguro e eu poderia listar outros defeitos ainda. O fato é que ninguém é legal o tempo todo e nem é tão legal quanto se mostra.

Quando conhecemos alguém, pode ser um potencial novo amigo, é quase involuntário fazer certo esforço para se mostrar interessante. Você não vau mentir, claro. Há muito em ti que é, provavelmente, magnífico e deve ser mostrado.

No começo de qualquer coisa, é sempre difícil se mostrar incomodado, chateado ou qualquer coisa que mude o clima da situação. O que acontece é que você não sabe disfarçar tudo, eu pelo menos não sei disfarçar nada. E, quando vê, não há outra alternativa além de ser sincero e, consequentemente, chato.

Se tem algo que me deixa nervosa é quando me dizem “por que você está assim? Eu sei que tem alguma coisa”. Eu não tenho para onde fugir, a outra pessoa SABE que tem alguma coisa.

E a primeira coisa que penso é: quando que eu deixei me decifrarem tão bem?

Isso me deixa nervosa, me sentindo exposta, mas em seguida vem o alívio. No fim das contas, as relações se solidificam quando as pessoas se expõem dessa forma. Mas falar a verdade completa é sempre complicado. Não que eu apoie mentiras, eu as odeio, mas são raras as verdades que são ditas sem o mínimo de maquiagem.

Corro risco de me arrepender, mas acho que esse texto não faria sentido se eu não falasse algumas características que me fazem ser decifrável.


- Meu rosto esquenta quando fico nervosa;
- Faço muitas perguntas quando estou brava;
- Minha voz muda quando estou triste;
- Eu uso humor como mecanismo de defesa sempre que quero expor meus sentimentos. 


Tenho ainda uma outra mania, a de catalogar defeitos como se para alertar uma pessoa de onde ela está “se metendo”, mas tenho percebido que essa não é uma mania só minha.

Acho que tudo isso transita entre um pouco entre se preocupar com o outro e não gostar muito de si. O processo de deixar alguém te conhecer implica também aceitar que você tem muito a mostrar, seja bom ou não, e isso completa quem você é.

Também implica perceber que você é surpreendente, e é isso que mais me tranquiliza. Por mais que você se mostre para alguém, é impossível saber tudo de uma pessoa. Nem eu sei tudo de mim mesma, imagine só outra pessoa.

Então, apesar de difícil, não há nada mais reconfortante do que se deixar conhecer. É como encontrar um refúgio das tentativas de simular perfeição.

 

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