O livro da minha vida

setembro 16, 2021

 


Escrever ficção é uma farsa.

Isso pode parecer óbvio, mas não é exatamente do que eu estou falando. O que quero dizer é que nenhuma ficção é, de fato, tão ficcional assim.

Depois de uns três meses de quarentena, eu comecei a me dissociar de tudo. Foi nesse período também que eu fiz o blog. Estava me sentindo tão perdida que resolvi me resgatar por meio da escrita e deu certo por um tempo, não sei se ainda está funcionando porque sinto que sempre estou escrevendo a mesma coisa.

Um dia, não sei que estalo deu na minha cabeça, não faço ideia do que aconteceu, olhei para o meu quarto e simplesmente não o reconheci. Foi quando eu escrevi um texto totalmente sem sentido e que não vou mostrar a ninguém chamado Autobiografia de uma Louca. A louca, como já devem ter percebido, sou eu.

Nesse texto, eu catalogava todos os objetos ao meu redor e expressava minha angústia e impotência. Eu queria muito fazer alguma coisa, mas eu não tinha ideia do quê e todos os meus pensamentos eram mirabolantes.

Eis que, em uma conversa aleatória, resolvi confessar a uma amiga que queria fazer um livro. Um conto, cerca de 50 páginas, para vender em e-book. Me arrependi IMEDIATAMENTE após ter contado aquela ideia. Até então, era só uma ideia, mas, depois de contar para alguém, me sentia na obrigação de colocar meu plano em prática.

De Autobiografia de uma Louca, surgiu Todas as Luzes do Universo. Eu iria colocar o primeiro título como nome do livro também, mas percebi que eles não tinham nada a ver. O primeiro é uma coisa muito mais íntima, abstrata, uma história que nem sabe exatamente o que quer dizer. O segundo, mais bem acabado, traz angústias reais e fictícias para uma personagem inventada.

Lembram que eu falei que gosto de colocar meus personagens para correr por mim? Pois bem, a minha personagem faz coisas que eu nunca faria. E eu acho isso genial!

Depois de terminar de escrever, isso há quase um ano, o conto ficou intocado por muito tempo. Eu o associava a momentos que eu não gostaria de associar e tive que aprender a colocá-lo no seu lugar de obra fictícia novamente. Em outras palavras, tive que separar autor e obra. Nós não temos nada a ver. Na verdade temos, mas não coisas muito concretas e cada um deve seguir o caminho que achar melhor.

Quando fui revisar, notei coisas que não havia notado, melhorei algumas coisas e, provavelmente, piorei outras. A Gabriella da revisão já não era a mesma que escreveu o conto. Ao pegá-lo de novo, eu detestei! Metade das coisas não faziam mais sentido para mim e eu tive que resistir com todas as minhas forças a não modificar e estragar o final que fiz com tanto carinho!

Creio que as obras têm que manter coerência com o que o autor estava sentindo no momento. Se isso fazia sentido para mim na época, mesmo que não faça mais, ela deve permanecer assim.

O conto tem me acompanhado em diversas fases de quem eu sou, mas eu não o acompanho nas fases do que ele possa ser. Porque, ao contrário de mim, ele está pronto, revisado, finalizado, acabado da melhor forma possível. Então, talvez, eu o tenha feito de diário como se ele fosse, de fato, o livro da minha vida. Mas ele não é, muito pelo contrário, ele é tudo que eu não sou.

A graça de escrever é ser o que não é.

Todas as Luzes do Universo é mais do que um livro, é mais do que meu livro. É um universo particular que fala por si só.


 

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