Minha vida em uma live musical

junho 20, 2020






Que atire a primeira pedra quem nunca sentia uma leve “dor de corno” ouvindo uma música sofrida mesmo que nunca tenha namorado. E aqui eu não falo só do sertanejo, ou pensa que eu não sei que você está colocando “Eu me apaixonei pela pessoa errada” no volume máximo do fone de ouvido? O jovem indie também não fica de fora, nem pensem nisso.

Sertanejo, indie, pop, pagode, MPB, o fato é que tem músicas em especial que fazem a gente de sentir mesmo como se estivesse vivendo uma situação amorosa muito doida mesmo que não esteja.

E na quarentena essas lives serviram para mostrar o quanto gente sente na alma quando Marília Mendonça canta “me apaixonei pelo que eu inventei de você”.

A live começa: liga celular, computador, televisão, o que for, é um evento multiplataforma. Pega uma cerveja, um vinho, um whisky – pois as músicas de corno podem ser classificadas de acordo com a bebida que mais combina com a sofrência (eu já ouvi Marília Mendonça bebendo leite com canela e foi, no mínimo, inusitado) - ou algo não alcoólico para quem não bebe. Ah e vai um petisco aí também, quem sabe.

Procura um lugar para sentar e fica bem atento para sentir AQUELA MÚSICA na alma. Fica pensando “tomara que toquem as antigas”.

Eu não sei que fenômeno é esse que ocorre com “as antigas”. Não sei se não fazem mais músicas tão profundas como antigamente ou se é resultado de um saudosismo em relação ao passado. O fato é que as músicas antigas sempre parecem tocar mais fundo.

Começa a live. Nossa, mas eles já começam logo com essa? Essa é forte. A música acaba e começa outra. Vixe, essa é de acabar com um.

Na terceira música você já não se contém. Essa aqui merece um tweet de um trecho em caixa alta ou um story com um pequeno vídeo para externalizar sua paixão por aquele momento.

Cada música que passa você canta de olho fechado com a mão no coração. Tocou aquela música e você pensa “vai dar não vou ter que mandar mensagem pra pessoa”.

Vão passando as músicas e você passando a lista de contatos. Mas por que eu não tenho o número dela? Apagou justamente para não passar por essa situação?

Depois de tanto trabalho para nada, começa a pensar que aquela bandida nem merece. Vai aproveitar a música que é o que você faz de melhor. Toca uma música que se identifica absurdamente mesmo sem nunca ter passado por aquilo. E começa a se perguntar se realmente não passou ou só não sabe. É aquele velho “se o corno é sempre o último a saber, eu posso muito bem ter sido e não sei”

A live acaba e você começa a voltar ao seu estado normal. Sentado, começa a tentar se lembrar da sua vida amorosa. Não está acontecendo absolutamente nada, por que você estava sofrendo tanto?

Vasculhou até que desistiu pelo número da pessoa e agora começa a pensar: “espera um pouco, quem é ela mesmo?” A resposta é: não existe essa pessoa. Você nem está apaixonado. Era só uma live fazendo você tomar as dores da música que nem tem a ver com o que você está passando...

5 comentários

  1. MDS É EXATAMENTE ISSO!! Tô amando seus contos!

    Além de linda escreve bem, vc tem algum defeito?

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  2. Que texto incrível,define bem o que eu sinto,chega até ser assustador o jeito como eu me identifiquei. Ja fazia algum tempo que eu não lia textos desse tipo e vc arrasa.

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  3. Admirável a forma como você torna qualquer história envolvente!!

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  4. MEU DEUS SIM!!!! É isto!! Amei e me identifiquei 100% sto rindo e chorand

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  5. Ahh, Bruno e Marrone que o digam, se vissem eu sofrendo enquanto escuto eles certamente ficariam abismados hahaha. Acho fantástico essa tua capacidade de expressar aquilo que sentimos. Texto lindo.
    Parabéns.

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