Crônicas de cidade pequena

julho 11, 2020





Há vários prós e contras em se morar em cidade pequena. Algo que eu amo são as distâncias reduzidas. Muito bom poder ir “na rua” à pé. Muito bom também falar que vai na rua, se referindo ao centro da cidade, e todo mundo entender. 

Algumas coisas são muito engraçadas para definir se são boas ou ruins, como animais passeando. Algo geralmente agradável de se observar são os animais como vacas, cabras e cavalos caminhando no asfalto. Mas um dia quase fui atropelada por um cavalo na calçada da minha casa e isso não foi muito agradável (teve também aquela história do cavalo doido que saia correndo atrás de todo mundo que foi meio assustadora).

Também o fato de haver uma população reduzida na cidade gera traços positivos e negativos. Prós: você conhece quase todo mundo. Contras: quase todo mundo te conhece.

Mas de todos os privilégios de se morar em uma cidade pequena, um dos maiores é poder fofocar com os amigos sentado na calçada. O anfitrião da calçada pega umas cadeiras de macarrão, coloca debaixo de um “pé de pau” e a conversa se desenrola pela tardinha.

O diálogo se inicia mais ou menos assim:

- Ei, tu sabe fulano?

- Sei não, mas conta.

Para quem não é familiarizado, deixe que eu apresente as personagens desses causos. Há três tipos de pessoa nas conversas de calçada: 1) o olho que tudo vê - sabe e conta de todo mundo da cidade; 2) a “de boa” - conhece e fala com todo mundo, mas não sabe muito da vida de ninguém; 3) a perdida - aquele que nunca sabe quem é ninguém, mas presta atenção em todas as histórias (eu geralmente sou a terceira).

Passa alguém de moto e todo mundo grita “boa tarde”, quase sempre há alguém que encosta a moto para conversar mais um pouquinho. Os minutos passam e mais pessoas aparecem para conversar. 

A maioria das casas e calçadas recebem visitas de vez em quando, mas há sempre aquela específica que é a mais movimentada da rua.

Se você quiser saber as novidades pode ir para aquela calçada e se atualizar. É basicamente uma newsletter gratuita atualizada todo dia, com a diferença de que não tem como receber as atualizações detalhadas dos dias que você perdeu.

Mas não pense que só é atualizado quem conversa na calçada. Tem sempre aquele vizinho fofoqueiro que fica na janela (ou na calçada) para observar qualquer movimento e assim saber de tudo o que se passa por ali.

A relação com esse hábito é tão comum que há também as pessoas, geralmente mais velhas, que se sentam sozinhas em frente de casa não para fofocar, mas só para "ver o movimento". Uma maneira de não se sentir só, de cumprimentar as pessoas e receber um sorriso.

Não pense que os amigos também só se reúnem para falar dar vida alheia. Um grupo pode sentar com um balde de pipoca pra só matar a saudade de falar sobre a vida (falar de livro, de filme ou qualquer coisa) ou simplesmente ficar olhando pro tempo juntos.

As calçadas são um ponto de encontro onde a gente descansa e celebra o fato de estar em um lugar mais tranquilo. Isso é cada vez mais raro, pois em lugar nenhum reina mais tanta paz.

Não que a vida nas cidades pequenas seja parada, no entanto, momentos de lazer, que poderiam ser preenchidos com várias outras atividades nas cidades grandes, são passados as vezes com essas conversas, risadas e um ventinho no rosto. 

Eu, particularmente, não trocaria isso por nada.

6 comentários

  1. Mano é exatamente isso. Inclusive saudades de sentar na calçada com os amigos reunidos e fofocar.

    Gabi muito bom seus contos! Adoro ter uma coisa leve pra ler todo domingo. Continue ok?

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  2. E é perfeito demais ❤️❤️❤️

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  3. Lendo de novo porque eu sonhei nessa noite que tinha meus amigos na minha calçada como de costume. Amo teus textos e as boas sensações que traz

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  4. olha não tenho mais nem palavras pra vc, apenas saudade de aglomerar na sua calçada, tbm não trocaria por nada ❤

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  5. Arrasou Gabi! Exatamente assim!
    Parabéns!

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  6. Pessoas nostálgicas todas se reúnem nessa publicação, rsrs. Os momentos de infância em cidades assim são incomparáveis... Toda a paz, harmonia e sentimento de estar em casa quanto estamos em nossas cidades pacatas é tudo maravilhoso, sem igual. O impacto de vir morar em cidades modernas e movimentadas é enorme, mas as boas lembranças de nossos "cantinhos lá no Nordeste" serão sempre reconfortáveis.

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