"Do terceirão pra vida" - parceria com @sa.bi.do

agosto 26, 2020

 

"Do terceirão  pra vida". Arte por Ryan Castro - @sa.bi.do

Estranho como as pessoas vão tomando rumos tão diferentes na vida e é cada vez mais difícil nos mantermos próximos. Parece tão distante que não consigo ao menos lembrar da última vez que estava em minha cidade natal e a maioria dos que amo estavam, se não presentes naquele momento, ao menos por perto.

Hoje, se estou em um lugar para visitar alguém, sinto falta das pessoas que deixei na partida, se volto, então sinto de quem não foi comigo. E assim por distante. Será que a vida adulta é viver de saudades?

Creio que a vida é sim, repleta de saudades. Não apenas de alguém que está longe. Às vezes alguém que você ama pode estar à distância de uma mensagem ou até de um grito no meio da rua. Então o que nos impede de alcançá-las?

Talvez um receio, uma vergonha. Mas por que ter vergonha de falar com alguém que você costumava passar horas numa ligação ou madrugadas trocando mensagens?

Não acho que haja uma explicação lógica para esse sentimento. Na verdade, acho ele até muito irracional. Conhecemos uma pessoa, nos aproximamos, amamos aquela pessoa e algo nos faz crer que seremos amigos para sempre. Depois a gente vai se afastando.

E isso não é abrupto. É quase imperceptível no começo. Vocês vão trilhando seus caminhos, correndo atrás dos desejos e quando veem já está tudo diferente. Fica ali aquela mensagem de “se precisar eu to aqui”. Vocês estão mesmo, e sabem disso. Mas, a partir do momento que suas vidas vão mudando, não faz mais sentido procurar o outro para desabafar.

O elo entre vocês já mudou, e a vida continua.

E não adianta alguém vir dizer “nossa, você mudou muito”, porque a resposta é “sim, mudei mesmo, e você também”. Não entenda a mudança como algo ofensivo. Vocês só viveram situações diferentes, seguiram rumos diferentes e hoje não se encaixam mais.

Isso, se encaixam, como uma peça de quebra-cabeça é essencial para completar o desenho e dá a sensação de desfalque se não está lá. Às vezes essa peça hoje pode não ter mais nada a ver com a sua vida.

Como naquele filme Um Dia, que a personagem fala “eu te amo, mas não gosto mais de você”. Pode ter pessoas que você considera muito, ama, mas que não tem mais absolutamente nada a ver contigo e você não consegue mais interagir com ela.

E é por isso que às vezes a pessoa pode estar a uma mensagem de distância e a mensagem nunca chegar. Porque não se sabe o que vem depois, o que vão falar em seguida.

Vocês ainda falam “que saudade” ou “vamos marcar”, mas nunca marcam. Vai que um dia vocês saem e é desconfortável? Ou não, pode ser que seja legal conhecer uma nova versão de alguém que já foi muito importante para você.

Só se sabe tentando. De qualquer forma, mesmo que a barreira entre duas pessoas que se amam, mas não se reconhecem mais, seja ultrapassada, ainda se tem as recordações a seu favor.

As lembranças nos acompanham por onde vamos e o mais engraçado é que talvez elas nunca mais voltarão a ser mais que lembranças, e talvez não faça mais sentido que isso aconteça, afinal as vezes é melhor deixá-las intocadas na memória a fim de que tenham sempre o mesmo significado, o mesmo brilho e o mesmo sorriso amarelo ao recordar.

A saudade nos molda. Se hoje sou o que sou é porque a saudade de episódios que vivi me forçaram a ir em busca de novas vivências memoráveis. Nem só de saudade vive o ser humano, mas nela ele se cria e ganha coragem para se recriar quantas e quantas vezes puder para viver o novo sem esquecer o que se passou.

1 comentários

  1. Só queria exaltar mais uma vez o seu trabalho, cada texto que você posta aqui no blog me toca de uma maneira especial, é muito legal acompanhar sua jornada e suas conquistas com esse blog. Esse texto em especial foi um dos que mais me marcou, todo mundo passsa por esse sentimento relatado e a forma como vocês abordaram o tema me prendeu em cada palavra escrita. Muito obrigada por compartilhar o seu talento com todos nós...

    ResponderExcluir