Folklore e a busca de Taylor Swift por uma nova sonoridade

outubro 05, 2020

 


Quando Taylor anunciou seu oitavo álbum, eu fiquei absolutamente confusa. Um aviso um dia antes do lançamento?

A primeira vez que vi alguém usando esse artifício de álbum surpresa foi Beyoncé e tudo que ela faz, claro, vira referência.

Mas, vindo de Taylor Swift, eu não esperava algo assim. Esperava um compilado de posts misteriosos com mensagens subliminares, indiretas e uma super produção. Mas não. Ela chegou “esse é o meu álbum de nome tal que conta tal história” e deixou a euforia por conta dos fãs.

Essa era a proposta dela. Algo mais simples, que aparentava ser menos planejado. Só aparenta mesmo, pois o artifício de anunciar na última hora é uma estratégia muito bem executada e, conhecendo o trabalho dela, sem que não faria nada por acaso. Lógico que esse também é um privilégio de artistas mais consolidados e, se aproveitando desse fator, ela resolveu se reinventar.

O Folklore é, ao mesmo, algo inovador e um resgate das raízes da cantora. A retomada mais marcante de instrumentos como o piano (esse realmente foi uma das estrelas do álbum para mim) e até do próprio banjo. Ela estaria voltando para o country? Iria voltar a ser a Taylor de antes com cachinhos e visual meigo?

Não. Absolutamente não. Taylor Swift não parecia de todo confortável com a carreira no estilo pop e parecia querer algo que a deixasse mais confortável. Mas esse algo não vem da menina de 19 anos com um vestido de princesa. Pelo simples fato de que ela agora é uma mulher de 30 anos que já passou por várias situações na sua carreira e que agora tem objetivos diferentes na vida.

Em cada era ela se reinventa, e eu acho isso ótimo. No Folklore não seria diferente, mas nesse álbum tem algo mais pessoal e mágico. Ela se entrega mesmo às narrativas fictícias, o que faz ele ter uma delicadeza ainda maior.

Na primeira faixa, The 1, Taylor fala sobre um amor da juventude que não se concretizou. Brinca com as voltas da vida e como seria se aquela pessoa tivesse sido “a pessoa” de fato. Esse sentimento de impotência de querer recuperar um amor é trazido em várias histórias contadas.

Cardigan é o primeiro clipe do álbum e também a primeira das três perspectivas de um triângulo amoroso. Na canção, ela mostra a visão de uma jovem que, após encontrar alguém que a escolha quando ela se sentia “um velho cardigã debaixo da cama de alguém”, sai da sua zona de conforto e se lança em um romance que depois se mostra destrutivo.

Na letra, ela fala que “quando você é jovem eles assumem que você não sabe de nada”, isso será retomado ainda em outra canção. No clipe e na capa do lyric vídeo, temos a presença das ondas. A água (e as ondas, mais especificamente) são um símbolo de insegurança, de tormenta pelo que pude entender.

Em The last great american dynasty ela traz uma narrativa sobre uma mulher considerada louca por não seguir os padrões de comportamento exigidos na época. Essa temática é retomada depois em Mad woman, uma crítica às figuras masculinas, que tratam mulheres como histéricas enquanto tentam se livrar da responsabilidade dentro de uma relação. “Nada como uma mulher louca, você a fez assim”.

Não é só para falar do triângulo amoroso que ela canta diferentes perspectivas. Em Exile, com o cantor Bon Iver, ela traz um rompimento contato pelas duas partes. Algo que ela já trouxe um pouco com The Last Time, do álbum Red.

E aqui entra o momento mais “folclórico” do álbum. Onde a ficção toma de conta e as narrativas parecem mais místicas. My tears ricochet tem algo mais fantasmagórico, sobre morrer por alguém que ama. A imagem do lyric vídeo é novamente o mar. E eu gosto de reparar nisso porque, como já disse, a água parece remeter a um sentimento de angústia comum a algumas músicas.

Mirroball foi uma surpresa enorme para mim. Do álbum, é a que eu considero uma das mais diferentes do que estava acostumada a ouvir com Taylor, ela vai por um caminho mais indie. Seven remete à infância, a quando as coisas pareciam boas e felizes e busca resgatar algo de belo para si.

Uma curiosidade aleatória: Seven é a música sete e eu achei isso totalmente desimportante até me tocar de que The 1 é a música um e August (mês 8) é a música oito. Isso é relevante? ACHO QUE NÃO. Mas achei engraçado.

Mas enfim, vamos para August que é a nossa segunda perspectiva do triângulo amoroso. Ah, outra coisa, há cinco músicas entre cada uma das perspectivas. E isso também não é muito relevante, mas eu gostei!

August conta sobre um romance passageiro. Não sei se chega a ser um romance, já que para isso as duas partes devem encarar como tal, e para um deles foi algo sem significado. Na letra, ela diz que agosto de se foi como um gole de vinho, pois ele (o cara do triângulo amoroso) nunca foi dela. O que nos remete a um trecho de Cardigan onde diz que se você correr atrás de duas garotas, vai acabar perdendo a “certa”. Ora ora se não são as peças começando a se encaixar.

Acho que esse álbum transita entre amores adolescentes e relações mais “adultas”, o que não quer dizer que os romances adultos sejam lá essas coisas em nível de maturidade.

Na verdade, ela traz em ambos uma ideia de comunicação falha e de algo proibido algumas vezes. Em Illicit affairs, é representado um caso às escondidas que pode ser doloroso, mas que é inevitável.

Mas temos um respiro com a música mais fofinha do álbum. Ai sinceramente Invisible string dá até vontade de se apaixonar. Na história ela fala sobre existir uma linha invisível. Não sei se acredito nessas coisas, mas acho muito bonitinha a mensagem de amadurecimento que ela traz. Sobre ter aprendido com alguns erros e depois ter encontrado alguém e dado certo com essa pessoa porque primeiro você conseguiu se livrar dos seus próprios fantasmas.

Vou pular um pouco pois é muita música e eu nem tenho opinião formada sobre todas. Vamos falar de Betty que é o terceiro elemento do nosso triângulo amoroso. Como vocês vão ver, ela é a visão do carinha otário que acabou perdendo as duas garotas que gostavam dele.

A música é uma fala de James para a garota que ele gosta, a Betty, se justificando pelas burradas de agosto. Ele fala que tem só 17 anos e que não sabe de nada, mas que sabe que sente a falta dela. Parece que já ouvimos algo parecido em outra música? Pois é, vamos de Cardigan de novo, quando a Betty fala “quando se é jovem, eles presumem que você não sabe nada”.

E o James vai parar na festa de aniversário dela, o momento e maior turbulência para Betty. Lembram que um símbolo de tormenta é a água? Consequentemente, o momento da festa é representado no clipe de Cardigan quando ela vai parar em um mar turbulento.

Ainda bem que só vou comentar rapidamente sobre mais duas pois meus neurônios já estão colapsando.

Acho que ela sintetiza muito bem o álbum nas duas músicas finais. Peace é a ideia que comentei sobre maturidade. Alguém que abdica de viver com quem ama porque sabe que não pode lhe dar paz. Já Hoax é algo turbulento novamente (adivinha a imagem do lyric video) uma farsa, um amor angustiante.

Esse álbum é todo construído em uma mistura não muito clara de realidade e ficção, de narrativas envolventes. Taylor Swift continua aqui fiel a suas raízes, pois ela sempre gostou de contar historinhas.

Mas o Folklore é diferente pois é praticamente um livro de contos. O estilo musical também não é muito definido, temos elementos country, pop, indie e outros. É um projeto claramente muito pessoal, que envolve tudo que a cantora ama fazer.

E acho que por isso ele é tão especial. Nada melhor do que sentir que aquela pessoa está feliz e orgulhosa em ter feito o que fez.

 

 

 


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