Florais da Terra Quente e o brilho da música piauiense

janeiro 17, 2021

 


          
De umas 20 vezes que devo ter ouvido o álbum Florais da Terra Quente, acho que chorei umas 3, sorri para o vento umas 7 e as outras 10 fiquei encarando o teto do quarto enquanto tentava distinguir os 1001 sentimentos que as letras e melodias passavam.

É realmente difícil, na verdade é impossível, não sentir uma mistura de emoções ouvindo a banda que tem o mesmo nome de seu primeiro álbum de estúdio. Com 10 integrantes com diferentes estilos, presença de voz, violão, flauta, piano, baixo, violino, bateria, entre outros instrumentos, o grupo trás uma pluralidade e originalidade acompanhada de um jeitinho piauiense que dá um toque especial.

A banda independente de Teresina trás no nome uma referência ao calor do Piauí e busca também trazer certo regionalismo para suas composições. Em algumas músicas, localidades do Piauí são citados e acho que esse é um dos toques que me dá uma sensação muito boa.

Talvez seja uma opinião meio pessoal, mas, criada ouvindo mais músicas de fora do estado do que do próprio Piauí, eu via cantarem lugares que não conheço. Ouvir o nome de locais que estão próximos de mim foi muito acalentador.


O álbum começa com um “ta gravando?” e uma confirmação até se seguir a introdução instrumental que antecede "O que sobrar" (a transição é impecável). Essa primeira faixa dá uma sensação de infinidade, de potência, de uma amor que duraria até se “o céu inteiro cair, e a luz do sol querer descansar, e a vida vai parar de viver, e a terra vai parar de rodar”. “De tudo que parar de existir, o que sobrar é nosso”.

“Dicionário”, a faixa seguinte, também tem a ideia desse grande amor, mas com melodia e letra um pouco mais melancólicas. Ao contrário de tudo que o eu lírico de O que sobrar fala, em Dicionário, ele parece não ter palavras para explicar aquele sentimento. Se resume a desejar que toda aquela experiência transformadora perdure nos momentos bons e ruins. 

"Cá entre nós" parte de uma posição mais de indagação com si mesmo. Enquanto a personagem fala que está cansada e confusa e que a outro deveria deixá-lo para lá, ele também pensa nas suas atitudes de "tropeçar em si" e como isso impacta o outro. Trata de de pensar nos seus sonhos e tentar tomar as rédeas da própria vida. Vou soltar um trecho e não comentar nada pois eu chorei: "Cá entre nós, o ser humano já fez tanta coisa doida / dizem por aí que foi até pra lua / e eu ainda não achei o meu lugar...


Ainda seguindo a parte mais 'romântica' do álbum, temos “A semana” e “A marte.

A primeira, lembro de ter mostrado para um amigo e ele ter ficado impressionado porque “parece uma coisa, mas ao mesmo tempo parece outra, só que com um toque especial” e por aí vai. É provavelmente a mais fofa e gostosinha do álbum e entrou direto na minha playlist de “Músicas que me dão vontade de amar” (é uma playlist secreta, gente).

É sobre aquele final de semana passado com alguém que ama, aquela tardezinha de preguiça, uma conversa sem rumo e trás uma sensação de um amor quase que juvenil.

E depois a gente tem “A marte”. Nossa, essa aqui derruba qualquer um. Me deixou muito confortável as temáticas amorosas serem tratadas de perspectivas tão distintas e sentimentos diversos. Assim como em Dicionário (as duas são de mesma autoria) em A marte o narrador também parece de mãos atadas diante do sentimento.

Mas, como já disse, são sentimentos diferentes. Então aqui, a intérprete fala sobre as barreiras ultrapassadas, as defesas que alguém deixou derrubar para viver algo e sobre a vontade de se aventurar. “Feito astronauta, eu vou a marte”.

As duas seguintes trazem uma pegada mais regionalista. Gosto muito de como elas dialogam e se complementam.. Enquanto “Canção do arpoador” mostra um desejo de, se pudesse, voar pelo mundo e se aventurar, “Dois filhos”, mesmo também tendo esse espírito viajante, fala sobre ter raiz em um lugar.

Acho que não por acaso (vamos lembrar que aqui eu sou apenas uma doida interpretando) foram as duas escolhidas para parcerias. Em Canção do Arpoador, temos a presença do guitarrista Bráulio Miranda, que traz um arranjo instrumental muito bem elaborado para a canção.

Em Dois Filhos, a participação é da Banda de Pífanos Caju Pinga Fogo (aliás eles já vieram em São Raimundo e eu fiquei encantada com o show). Aqui são trazidos mais elementos do forró e de traços piauienses na letra. Aliás, citam minha cidade e eu fiquei “aaaaaa” (desculpem, não soube descrever bem a reação).

E agora a gente tem uma quebra. Da música mais dançante, vamos para a mais melancólica, digamos assim. Mas “Fantasma” não é uma música lenta, bem pelo contrário, na verdade. Essa canção tem uma melodia de suspense que vai crescendo e “explodindo”.

É um arranjo de instrumentos, combinações e variações vocais (quase todas as vozes da banda cantam nela) e efeitos sonoros que criam uma história fascinante. É cantada para um fantasma, não no sentido literal, mas alguém que assombra seus pensamentos por mais que você tente mandar embora.

Em certo momento, o cantado dá uma trégua para os versos cantados com um toque de piano. Violino e guitarra fortes, além da percussão, ajudaram a criar o ambiente da “história de terror” contada. ´

Enfim, não vou entrar em mais detalhes, mas não dá para não se entregar a esse álbum. Uma obra autoral, independente, diversificada e envolvente com, é claro, um gostinho de Piauí que, quem é daqui, vai se reconhecer, e, quem não é, não vai conseguir explicar.

5 comentários

  1. Obrigadaaa Gabiii❣️❣️❣️

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  2. Era tudo que eu precisava nesse domingo nostálgico

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  3. Concordo com vários pontos. Esse álbum é incrível e sua escrita tbm.

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  4. Esse álbum é perfeito e sua descrição sobre ele é o que eu pensava e não conseguia explanar. Adorei!

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  5. Poxa, esse álbum é transcendental. LINDIMAIS, eu amei conhecê-lo! Com certeza estarei aq pra sentir mais do trabalho de Florais da Terra Quente.
    Q lindo ler como q bateu em vc ^u^
    Abração de Salvador, Bahia!

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