A vida de uma tagarela

agosto 16, 2020

 

É muito difícil ser uma pessoa tagarela. Primeiro porque você sempre acha que está falando demais. E segundo porque você sempre acha que os outros falam de menos.

Como bebê tagarela, criança tagarela e jovem tagarela, acho que tenho muita propriedade para falar disso.

Uma coisa muito engraçada da tagarelice é que você acaba sendo um livro aberto. E não é que você tem intenção de contar sua vida para as pessoas. Mas conversa vai, conversa vem... e daqui a pouco você está “meu nome é Gabriella, tenho 19 anos, 3 gatos, sou do Piauí e uma vez eu fui tirar foto com um Papai Noel e ele estava bêbado”. Ops, essa sou eu.

Depois dessa nem preciso mais de um parágrafo de curiosidade, como costumo fazer.

Você quer bancar a misteriosa, mas é tão bom compartilhar histórias que você não resiste. E um fato interessante é que um tagarela reconhece o outro. A pessoa pode estar lá, caladinha na dela, mas você reconhece.

Algo que eu adorava era quando eu encontrava algum velhinho na rua, pois creio que eles reconheciam que eu sou alguém que adora ter papos aleatórios e começavam a me contar histórias. Uma senhorinha começou a falar comigo uma vez porque vimos uns pombos comendo pastel e logo ela começou a puxar assunto e contar da gata dela. Isso não faz muito sentido, mas tudo bem, foi legal.

Conversar com desconhecidos em um ponto de ônibus ou em uma fila de espera é uma das melhores coisas desse mundo de pessoas que adoram bater papo.

A maior vantagem disso tudo é que você acaba virando um colecionador de histórias. Das histórias dos outros, no caso.

Mas não é porque você é tagarela que não pode querer uns minutos de silêncio. Você pode inclusive ser uma pessoa bem tímida, mas deixa alguém de “dar corda” para ver.

O fenômeno da tagarelice também depende do ouvinte, por alguma razão, existem pessoas que a gente sente vontade de contar a vida. A pessoa pode nem ser muito falante, mas tem alguma coisa nela que te faz chegar nela com o “você não imagina o que aconteceu” na ponta da língua.

Isso, claro, se a pessoa quiser ouvir, pois você não vai ficar ali enchendo o saco dela. Ser tagarela não significa ser inconveniente.

E em falar em ouvinte, uma das maiores decepções do tagarela é quando você joga vários assuntos e a pessoa não consegue acompanhar o raciocínio e responde só um. Não culpo, as vezes é difícil se atentar a tudo ao mesmo tempo. Aí você manda cinco mensagens com cinco pautas diferentes e a pessoa fica perdida.

Mas, no fim das contas, tem sempre algumas coisas que a gente deixa para contar só para si mesmo. Conversar com as várias Vozes da minha cabeça é muito bom também. Você acaba muitas vezes se dando conselhos que você nunca tinha pensado antes.

Ou até conversar com seu gato, cachorro, jabuti, coelho, falar sozinho no meio na rua com gente te achando estranha.

Tudo isso é muito válido, porque, afinal, nós somos nossa única companhia em boa parte do tempo. E, embora isso possa parecer um encerramento clichê, é bom aproveitar o tempo para ouvirmos mais a nós mesmo e até para tagarelar um pouco sem compromisso.

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