Versões de mim

agosto 02, 2020




Paro para olhar fotos antigas e começo a me conectar comigo mesma em diferentes fases.

Olho o cabelo grande e penso que essa não sou eu. Como haveria de ser? Tão diferente em tantos aspectos. O cabelo grande esconde as orelhas hoje expostas acompanhadas de brincos grandes. Uma discrição estranha. Mas, ainda assim, sinto falta de algo ali presente. Quero deixar meu cabelo crescer de novo.

Então passo a foto.

Um cabelo agora no ombro. Tem algo ali que eu gostaria de ter. Talvez a coragem de tomar alguma decisão importante. Sempre após um corte radical, há uma decisão importante. Mas falta talvez uma dose de realismo nessa mulher que se projeta sorridente na tela.

Passo novamente a foto.

Imediatamente começo a sorrir. Uma garota de corte desalinhado no meio do pescoço aparece. Divertida, despreocupada, tentava se desprender das amarras que a puxavam de encontro ao mundo real. O que falta nela? Talvez ela não tenha percebido, tão preocupada em colecionar momentos felizes, a desproporcionalidade na qual vivia a vida.

Passo a foto novamente para outra mulher se projetar.

Deixou o cabelo crescer, não sei o que se passa pela cabeça dela. Nunca soube. Ela está feliz, só está cansada. Está caminhando para seu auge. Descobre aos poucos si mesma e o mundo. Acho que falta um brilho especial, mas não sei identificar o que é. Mas quem sou eu para querer ser a conhecedora, não é mesmo?

Próxima foto.

Agora se acende um brilho. Talvez o brilho de quem começa a entender melhor o que se passa ao seu redor. Usou a tesoura sem dó e sem se preocupar com o que viria em seguida. Um corte radical, uma decisão. A invejo, mas sei que ela está demasiadamente confusa consigo mesma para ser parâmetro no que diz respeito a decisões.

Passo para a última foto. Cortou mais o cabelo para se encaixar em si mesma. Se sente diferente, o novo visual transmite segurança. Nunca se sentiu tão bonita. Tem planos e mais planos e isso é ótimo. Ela sabe que não pode abarcar o mundo com os próprios braços e mesmo assim ainda tenta. Talvez falte aí se preocupar menos com o que não está a seu alcance.

Em todas elas há alguma qualidade conquistada e algo que precisa encontrar dentro de si.

Ajo como se fossem diferentes pessoas. Talvez sejam, talvez não. O cabelo se expressa como um divisor de águas. Elas são partes de uma mesma mulher, diferentes versões de mim.

Quero mudar novamente, pois essa mudança é uma forma de externalizar nossas sensações. Ou ela pode ser simplesmente a vontade de mudar o visual, pode ser também fruto do tédio como tantos estão cortando o cabelo na quarentena, não existe uma regra geral.

Partes se perdem e outras se ganham no processo, e está tudo bem porque aprendemos a aproveitar diferentes fases e o que elas têm a nos oferecer. Tenho vontade e coragem de mudar e isso é fascinante.

8 comentários

  1. É muito bonitinho ver que o seu cabelo te acompanhou em tantas fases e ainda acompanha. Voe sempre, Gabi. Seja quem você quiser e nunca esqueça de que a vida é assim. Encontros, desencontros, confusão e ao mesmo conciliação. Você é demais! ❤️

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  2. Que texto lindo, Gabi. Obrigada por compartilhar a tua evolução com o mundo e obrigada por se permitir. Saudade!

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  3. Que texto incrível, Gabi❤

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  4. O cabelo é de fato algo importante em uma mulher, ele praticamente decide nosso humor kkk...

    Mas não somente isso ele nos acompanha em todos e quaisquer fase de nossas vida..

    Gabriella seus textos, sua escrita seu talento são incríveis! Você é uma mulher incrível, não desista voce ainda vai alcançar além de seus sonhos.

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  5. Muito lindo seu textos ,siga em frente Boa sorte

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  6. Texto lindo Gabi parabéns!
    Cabelo é algo muito importante para nós mulheres rsrs .

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  7. 👏🏽👏🏽👏🏽👏🏽 Lindo texto!👏🏽👏🏽👏🏽👏🏽 continue se permitindo 😍

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  8. Que mulher incrível, cheia de força e coragem. Gabi, você é fora de sério.

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