Melhor sozinho?

junho 20, 2021

 




Sabe quando você está acostumado a ter uma pessoa para contar o dia e de repente (ou não tão de repente) essa pessoa não está mais lá para ouvir suas histórias e você não sabe mais para quem contar?

Se você não sabe, que privilégio o seu, mas acho improvável que alguém de mais de, sei lá, uns 15 anos não saiba como é passar por isso. Como qualquer pessoa que cria laços, eu já passei por isso e não acho que foi a última vez.

Acho que somos (com algumas exceções é claro), por natureza, seres que gostam de compartilhar as vivências e eu acho isso mágico. Parece que, quando compartilhamos, podemos ter percepções diferentes do que aconteceu. Então, compartilhar histórias banais pode ter várias consequências e motivos, digamos assim. Pode ser:


  • Ver, por meio da outra pessoa, um ponto que você não tinha prestado atenção antes;
  • Tornar a história boba mais legal e significativa a partir do momento que você compartilha com quem ama;
  • Rir um pouco acompanhado;
  • Ou puramente puxar um assunto.
Esses são só alguns que eu consegui me lembrar. Possivelmente há mais causas, afinal, ninguém tem as mesmas motivações.

Enfim, é legal compartilhar coisas aleatórias do dia porque essa é uma forma de perceber (e de fazer o outro perceber) que alguém faz parte da sua vida, da sua rotina. Esse me parece um indicativo de intimidade, seja lá o que a intimidade signifique.

Mas, às vezes, há um vazio muito grande quando alguém que costumávamos contar o dia não pode mais ouví-lo, seja lá o motivo. Ou melhor, há um “cheio” enorme, porque a cabeça fica cheia de histórias não compartilhadas que se acumulam e atormentam nossos pensamentos até sumirem (ou não) com o tempo.

Primeiramente, eu gostaria de dizer: não se acostumem muito a ter as pessoas sempre. Fiquem cientes de que, no fim das contas, você tem você e a sua companhia. Isso é o suficiente para ser feliz. Foi assim que eu comecei lidando com essas coisas, sem expectativas, sabendo que tudo é passageiro e eu me basto.

Segundamente, eu gostaria de dizer: ignorem tudo o que eu falei no parágrafo acima. Risquem, apaguem da mente. Eu revogo o que eu falei. Todo o parágrafo acima é uma coisa de adolescente que reproduz discursos rasos de amor próprio publicados em páginas de Instagram.

Parem de pensar que tudo é passageiro e que as pessoas vão embora em algum momento. Não estou dizendo que elas vão ficar para sempre, mas relações que são desenvolvidas pensando o fim estão fadadas ao fracasso. A questão é: você precisa entender que nem todas as relações vão permanecer do mesmo jeito, mas você não precisa ficar se lembrando disso constantemente.

Gostar da sua própria companhia não dispensa o prazer que é ter o outro por perto.

Hoje, eu tenho pessoas com quem gosto de compartilhar as coisas. Não só uma pessoa. Acho que descentralizar, de certa forma, foi a minha forma de lidar com isso. Lembro sempre daquele vídeo da Jout Jout (amo ela), em que ela fala que existe amigo que é bom para viajar, para morar junto, para sair, para ouvir conselhos e que, não necessariamente, uma pessoa precisa ser boa para todos esses aspectos. Penso assim: “essa história fulano gostaria de saber, essa nem tanto”. E por aí vai.

Talvez essas pessoas que me ouvem hoje não vão ser as mesmas daqui um ou dois anos. Mas quem se importa? Bem, eu não.

Depois de me acostumar e desacostumar diversas vezes com diversas pessoas, percebi que tudo passa. Algumas relações podem até não durar para sempre, mas a dor de não tê-las também não dura.

Sigo sem me arrepender de ter me acostumado a compartilhar minha vida com pessoas que amo ou amei, mesmo que a ausência tenha me causado sufoco. Prefiro isso a viver com medo de deixar que entrem na minha vida.

1 comentários