Hoje eu não quero dormir sozinho

outubro 17, 2021


 

Ultimamente eu tenho tido comportamentos muito infantis. Não falo em um sentido de imaturidade, mas no sentido de que boa parte das coisas que tem me trazido conforto remetem à infância.

Estou em um período em que eu só quero colo e cafuné. Você pode pensar: "e quem não?" Mas esse é um tipo diferente. Até poderia tentar colocar a culpa em carência, TPM, na pandemia ou em algo do tipo, mas não é isso.

Eu estou mais para uma criança assustada que quer ir para a cama dos pais quando tem um pesadelo. E eu tenho feito isso algumas vezes nesses últimos tempos, metaforicamente ou não.

Não sei qual a lógica científica por trás disso, e se realmente tem alguma, mas um abraço apertado me ajuda a controlar um pouco minha ansiedade e parar um pouco meus pensamentos. É por isso que eu tenho tido dificuldade de dormir sozinha, não quero ficar sozinha com meus próprios pensamentos. Quero ter alguém do lado para me abraçar e parar tudo isso. O pesadelo, nesse caso, é justamente não conseguir pegar no sono.

Quando era criança, lembro que eu tinha um pesadelo com umas máscaras, sonhei isso mais de uma vez, não lembro quantas. Era simplesmente várias máscaras em um fundo preto, e elas falavam meu nome. As máscaras eram coloridas e pareciam até máscaras de carnaval. Hoje fico rindo ao lembrar porque não entendo como eu tinha medo de uma coisa tão besta.

Mas se a Gabriella das máscaras visse os pesadelos da Gabriella de hoje provavelmente também não entenderia.

Às vezes, quando não consigo pegar no sono, tenho vontade de ir para a cama da minha mãe. Mas não faço isso porque acho que estou um pouco grandinha para isso e não quero atrapalhar os outros. Tudo isso me lembra quando era mais nova e tentava gritar meus pais após um pesadelo, só que minha voz não saia. Ainda hoje minha voz não sai, mas acho que porque parei de tentar gritar.

No fim de semana passado eu fui para a casa da minha tia, havia anos que não dormia lá. Por algum motivo, achei que isso me traria um aconchego, e trouxe. Eu não sei exatamente o porquê, mas retomar coisas que eu fazia quando mais nova faz com que eu me sinta mais protegida.

Não sei exatamente do que eu quero me proteger, mas quero.

Talvez a Gabriella de hoje esteja assustada com a vida adulta que chegou arrombando as janelas da vida. Podia ter entrado pela porta, não sei porque esse exagero todo para entrar de vez e virar tudo de cabeça para baixo.

Mas não é por tudo isso que eu deixei de me achar uma pessoa corajosa. Muito pelo contrário, acho que é necessário coragem para fazer muitas coisas que eu fiz. O problema é que, conforme eu ia vencendo medos, fui achando que eu era invencível. Às vezes ainda acho que eu sou invencível. Mas novos medos vão surgindo com o tempo e quero entender como derrotá-los. Eu não fui uma criança assustada, por que seria uma adulta assustada?

Mas não é bem assim que funciona.

Há alguns dias, eu estava em meu quarto. Era um pouco antes das 6 da manhã, mas eu já estava com dificuldades para continuar dormindo, apesar do sono. Minha mãe entrou pela porta do quarto, pegou uma almofada e deitou no chão ao lado da cama.

Minutos depois, ela levantou e se deitou comigo. Foi um pouco desconfortável naquela cama de solteiro, então não conseguimos ficar por muito tempo. Ela saiu e tentei dormir um pouco ainda, sem sucesso.

Quando levantei, ela estava deitada na rede no quintal. Perguntei o que tinha acontecido e ela respondeu: “tive um sonho ruim e não consegui mais dormir”.

Então é isso. Adultos também têm pesadelos e ficam com medo de dormir sozinhos. Eu preciso aceitar isso, já que agora sei que sou uma adulta não invencível.

Quem sabe a Gabriella do futuro pode rir disso assim como a Gabriella de hoje ri da criança que tinha medo dos pesadelos com máscaras. Eu espero que sim.

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